domingo, 18 de julho de 2010

DIA 08 – 17 de julho

Dia de sol. Sunny California.
Dia de ir à praia. Encontro com Mônica  na mesma esquina em que nos revemos após 15 anos em 2009 (East Peltason x Campus Drive).

Há um ano, lembro-me da situação impar: Após combinarmos que ela viria de Los Angeles, onde mora,  para me pegar e irmos à praia, acertamos o melhor ponto de encontro, próximo ao campus, mas alguns itens básicos passaram desapercebidos. Qual era o carro em que ela estaria? Um dado insignificante, se ambos não tivéssemos mudado tanto ao longo dos anos. Afinal, eu tinha 52 quilos, magérrimo, e não os 85 de agora; tinha barba e cabelos longos, e agora não tenho barba e os cabelos..., bem ainda tenho grande parte deles.

Eu tinha a imagem daquele sorriso cativante da menina que estudava comigo e passava tardes em meu quarto discutindo religião, música, política, todo e qualquer tema que surgisse. Discordávamos de quase tudo, mas sempre acabávamos nos abraçando e revalidando uma de minhas amizades mais antigas. Ela me adotou como irmão, e se refere e apresenta aos outros como tal, até hoje, como percebi nesse sábado, “This is my little brother...” Ouvi isso algumas vezes durante o dia na praia de Laguna. Mas por uma razão o outra deixamos de nos ver por quase duas décadas e quando ela passou por mim, de carro duas vezes, não nos reconhecemos.... Foi preciso um telefonema e a pergunta embaraçosa, “Oi, Cé, você é aquele cara que tá na esquina com a mão no poste?” Pois é, era eu.

Um ano depois, já nos vimos no Brasil há 3 meses, e agora já atualizei seu rosto em minha mente. Consigo ver a menina no sorriso, na voz, que traz o timbre como assinatura prevalecente. No fundo, descubro que ainda somos aqueles garotos de 15, 16 anos discutindo como seria possível que eu pudesse gostar do ABBA e de música clássica ao mesmo tempo. Those were the days of our lives. Anos depois, Mônica foi para Santos. Foi fazer Arquitetura. Eu, três anos mais novo; e menino (evoluímos mais devagar, eu sei, já admiti isso em muitas postagens), sentia falta da amiga, que via menos, mas via, quando íamos dançar em um show em SP ou quando ela me levava com sua CG 125 vermelha pra passear. Ela morava em uma república (a famosa “70”) e me dizia o quanto era legal a FAUS. O fato é que segui seus passos, entrei na mesma faculdade, morei na mesma república e como um irmão mais novo, às vezes pedia colo e tomava broncas.

Os tempos eram de muita correria, a vida era veloz, e por fim, a loucura e excitação da época nos afastou. Lembro-me com carinho de nossos ensaios de beijos na Sala 3. Ficávamos sem se ver por vezes um mês, dois, e quando nos víamos, nos beijávamos, abraçávamos como querendo dizer, “Olha, não me esquece, viu? Te amo.” E assim fomos, partimos para aventuras pelo mundo e ela veio para os EUA. Casou, descasou, lutou muito, ainda luta. Agora, a achei. Não perco mais.

Na praia, procuramos entender o mundo a nossa volta pelo prisma e lente que construímos ao longo dos anos. Rimos de um americano em um protesto ridículo em prol dos soldados em guerra, brincamos com cães que, aos montes, correm pelos jardins, assistimos ao pessoal jogando basquete em quadras na beira do mar, caminhamos pelas pedras, pelas calçadas da bela Laguna Beach, com suas casas tombadas pelo patrimônio, com flores diversas da região e algumas mostras de arte kitch dignas de um catálogo, ou pelo menos um post sobre o tema.

Quanto mais nos atualizávamos um com o outro, mais revelávamos o que fomos e representamos um para o outro. Acho que invariavelmente vamos ser amigos até o fim de nossas vidas, concluo feliz.

Rochas perto da Praia


Piscinas naturais. Água gelada (10 graus)

 
Arte Kitch, índia de pedra com pomba na mão. (esquina do corpo de bombeiros)


Visão da escultura (que conta com a imagem do pai e do filho) e os bombeiros ao fundo.


Kitch em movimento! (Fusca)


Em um banco "moderno," três pedras coloridas e, debaixo dele, sapatos de chumbo. Uma das pernas do banco é uma caixa de vidro que contem sapatilhas de balé brancas. (Vai entender!)

Placa de tombamento de imóvel, com data de construção.


Detalhe de animais na Bay Window. Todos de plástico!


Folhas gigantes!


Plantas desérticas.


E flores...


Pacific  Coast Highway. Sou mais a Rio-Santos!

No fim da tarde tenho uma festa na casa da diretora da extensão universitária, a Sra. Angelica Volkman, ou para os amigos, Gely, mais uma pessoa querida aqui nos EUA. Convido Mônica para ir comigo, mas percebo que está inquieta e não se motiva com a idéia de ter que lidar com estranhos e agir socialmente. Entendo bem isso. Sei que por trás daquela garota, e estampado em seu jeito de corpo, está uma menina tímida.

Combinamos de nos ver de novo em duas semanas. Ela teria acabado sua casa nova e eu passaria o fim de semana lá. Volto ao campus, tomo um banho (percebo que me queimei ao sol) e vou para  a festa com a van da universidade.


Ao chegar lá, reencontro Henry, marido da Gely, alguns alunos do programa que já haviam chegado e outros convidados internacionais. Sinto-me feliz por estar no lugar que queria estar com pessoas que gosto. Sinto-me ainda melhor quando  a certo momento Gely coloca um CD pra tocar que entendo é em minha homenagem. Guitarra Brasileira, de Heraldo do Monte. Obra belíssima, do querido Heraldo, cuja produção gráfica, incluindo a capa, é projeto meu. Me sinto orgulhoso, pelo Heraldo e sua música, e pelo resultado do trabalho gráfico, que gosto muito.

Praia de Crystal Cove. Eu entre amigos. Na frente, à esquerda, Prof. Pedro Melo.

É fim de tarde em Orange County. Crystal Cove é um desses condomínios, construídos na década de 1990, encravados nos morros áridos que correm até as praias da região. Este, particularmente, fica dentro do Crystal Cove State Park, e é ligado a praia por uma pequena trilha que passa por debaixo da Pacific Coast Highway. A praia pequena em extensão, porém muito charmosa, é retratada no filme Beaches, (Irmãs para Sempre) com Bette Middler e Barbara Hershley, da década de 1980. No caminho, sou apresentado a um professor madrileno com quem pratico meu espanhol por alguns minutos. Momentos depois, conheço Ivone, panamenha que trabalha na UCI com marketing de cursos internacionais. São oportunidades únicas de intercâmbio de percepções do mundo. Fugidias, no entanto, como cada por do sol neste belo lugar. A festa continua, com um jantar farto e dança: forró, samba, rock. Uma geleia geral. Em meio ao clima, eu já levemente alcoolizado, vejo a lua, suprema, crescente, sorrindo como o gato de Alice. Compactua comigo a felicidade da vida, o prazer supremo de estar entre amigos. Sorrio de volta. Brindo a vida e a meus amores distantes no Brasil.



Michael Lyons e o por do sol ao fundo.



Kelly Oto, algumas caipirinhas depois.


Gely e sua "Caipiroska"


E o sol se põe no mar...

A festa continua...

Um par de horas depois, minha amiga Kelly, diretora assistente da extensão, me diz ao pé do ouvido que vai sair à francesa. Peço-lhe uma carona até o campus e, após despedir-me da anfitriã, saio.

De volta aos dormitórios, vejo que bebi demais. Gely havia insistido em oferecer a todos sua caipirinha de vodka. Eu ajudei a fazer, experimentei, e me deixei levar com a experiência. 


Experiência, sim, o dia foi uma experiência a mais que agrego e compartilho por aqui.

Para acabar, Mario Quintana, e a síntese desse sábado:
" A amizade é um amor que nunca morre".


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