segunda-feira, 2 de agosto de 2010

DIA 22 – 31 de julho

Passa de meia noite do sábado para o domingo. Estamos na Freeway 405 cruzando Los Angeles rumo ao San Fernando Valley. A noite é clara, iluminada por uma lua minguante que delicadamente se assenta sobre um quê de nuvens, como que se preparando para um descanso casual no meio de sua jornada. No carro, Mônica e eu, felizes, cantamos Spirits in the Material World, do The Police. A bateria de Copeland marca o ritmo da noite, enquanto Sting compactua conosco o prazer de estarmos vivos, sermos espíritos livres em uma América material, ao tempo que etérea, palpável em cada milha percorrida. Nossa amizade, iniciada há 35 anos, quando juntos, tínhamos aulas de inglês em nossa cidade natal, parece se justificar em nossa cumplicidade no trocar de olhares e em cada nota dessa bela canção. 

Há algumas horas estávamos em uma festa multicultural na casa da Gely. Ali, eu que não dançava há mais de ano, recebo a incumbência de um americano de ensinar a sua esposa alguns passo de forró. Fico surpreso com  minha performance e com a de minha parceira, que ao final da música me abraça verdadeiramente agradecida pela experiência. Foi um abraço de sentimento mútuo.

Praia de Crystal Cove
Minha HarMônica amiga
A comida, farta e saborosa, a música brasileira, remetendo ao movimento do corpo em sua força rítmica e a alegria típica do encontro entre amigos marcaram o tom da noite.

Não há nada melhor do que estar onde queremos com quem queremos quando queremos. Tempo e Espaço definidos e em sintonia com nossa existência. As coisas deviam ser assim o tempo todo – rítmicas, harmônicas.

Por do sol em Crystal Cove, Newport.
Horas antes o sol havia dado seu show vespertino ao sair de cena com a elegância que lhe é típica nessa parte do mundo. Jogara seus raios mágicos a colorir de ouro o céu e o mar do Pacifico. Na praia, um tom alaranjado ilumina a mata, os rostos e corpos dos que compactuam o  momento.

A tarde havia corrido tranqüila. Após ter trabalhado por quase 4 horas, decidi manter meu compromisso com minha saúde física e ir à academia. Uma pequena dor em meu pé me remete a negligência com meu medicamento para a Gota. Não o tomei nos últimos dois dias... Shame on me! Ainda assim, fico lá por 50 minutos – estou ansioso, pois na volta vou falar com a Bia. Faço isso, entro no skype e a vejo como uma adolescente em flor - Bela, praticamente radiante em seu olhar, cabelo, jeito de uma mulher em formação, testando sua vaidade, seus trejeitos. Amo essa menina. Ia para um jantar com amigos, por isso não conversamos muito...Lamento.

Meu almoço havia sido rápido, já que estava no meio de uma tradução que queria entregar na segunda-feira. Não me incomodo de ter que trabalhar no sábado. O segredo está em distorcer nossa percepção do tempo a nosso favor, ou seja, o tempo não importa quando não queremos que ele conte. Não é mais sábado, não é mais nada. Me excluo do calendário, enquanto estou imerso em outro processo, que passa por contar palavras, que se transformam em outras palavras e geram minha remuneração em sua transformação.

Enquanto trabalho, tenho um de meus 2 laptops usando a alta velocidade  da rede da UCI para baixar músicas e filmes. Uma diversão a mais oferecida por essa terra.

Nesse sábado acordei quase no fim do horário do café da manhã. Ainda assim, não havia sido o único. Grande parte dos alunos que não havia partido para Las Vegas na noite anterior se preparava para curtir o dia californiano em suas atrações, Disneyland, Universal Studios, Calçada da Fama em Hollywood, Rodeo Drive, um sem fim de opções. Eu espero um dia longo e feliz pela frente. Vou encontrar com a Mônica no fim da tarde, vamos a uma festa e depois para sua casa em LA. Domingo é dia de turismo...

O sorriso que sei que esboço quando acordo me faz pensar na temporalidade das coisas. Penso que a narrativa e o controle da palavra nos permite a mágica aventura de distorcer o tempo, comandá-lo, brincar com ele. O mundo material se curva frente a força do espírito...